«(...) Eu
queria dançar sobre o céu de uma tela, verter a lágrima sobre o peito
de um traço. Eu queria oferecer Picasso ao mendigo, ensinar Dali ao
vadio. Eu queria provar o veneno de quem se deita em pecado, lamber o
suor de quem se é de todo o lado. Eu queria beijar de língua a boca do
mal - e saber com que anjo me deito afinal. Eu queria a verdade que
nunca se dissesse, pois é essa a mentira que nunca escurece. Eu queria
um Deus que soubesse pecar, pois é essa a única forma de amar. E que nunca pelo Bem se faça o Mal, pois é esse o único pecado mortal. Que nunca os anjos tenham asas, pois é essa a única forma de voar.»
-- Pedro Chagas Freitas, in "LIVRO DE AFORISMOS & MENTIRAS UNIVERSAIS".
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Tenho tanta merda para deitar cá para fora mas depois népias. Olho, vejo frases, aprecio umas, odeio outras, uma fazem sentido, outras não... Estou numa de "que-sa-foda", mas com jeitinho e tal que é para não doer tanto.
Oh pá, tanta merdinha jeitosa, pronta para jorrar desta mente perversa e cansada... Tanta coisinha bonitinha mas não. Não sai nada. Pelos "entrefolhos", apetece-me sim dizer umas quantas coisas feias e arrogantes a uns e a umas outras por aí.
Bem sei que devíamos tentar ser melhores a cada dia que passa. Eh pá... Mas não é fácil. Nada fácil. Mas também, nessas Paragens da Vida, não podemos estar sempre à espera do lado cor-de-rosa da "coisa"; Isso é fútil e merdoso "comó" caralho. Foda-se, se é.
[E aquela frase tonta do "deita cá para fora" (publicidade da TMN) entoa estridentemente na minha cabeça e ouvidos... Grrrrrr! Porra pá, o que fui eu fazer.]
Foda-se que hoje estou nostálgica! Bucólica, talvez... Como diria a Tita. Ou, por assim dizer, estou parva, vá. Deve ser isto mesmo. Mas isto (também) faz parte do processo de "limpeza"; da libertação que urge em mim, no meu corpo, dos dias menos bons, da paz que almejo como se não hovesse destino.
Merda, sou densa "comó caralho". E custa ser-SE simples. Custa, ai custa, custa. Não é pouco, nem muito. É bastante!
Adeus, adeus e mais adeus. As mãos com que te amei são aquelas com que te digo adeus.
«Amei-te com as palavras com o verde ramo das palavras e a pomba assustada do coração.
Amei-te com os olhos
o espelho doido dos olhos e a sede inextinguível da boca.
Amei-te com a pele as pernas e os pés e todos os gritos que trago por debaixo da roupa.
Amei-te com as mãos As mesmas com que te digo adeus.»
«... Ninguém nos ensinou a usar Nada do que recolhemos pelo caminho Perto das ilusões Entre o amor e as razões Perversas.
O passado já lá está Raio de uma sorte cinzenta E o presente é uma réstia de esperança enquanto houver saúde... ---- Não há enganos entre nós, só as coincidências explicam os afastamentos que nos unem.»
Os dias são curtos, as noites (aparentemente) são maiores e que
Até as luzes de Natal já se acenderam...
Sim, é neste agora que vejo que o quanto vivi contigo foi pouco, está tão distante e não foi real. E este agora sabe tão mal, é tão feio e tão podre tal como tu, como a tua vida pobre... Sim, pobre. Muito pobre de ti.
Agora, é o meu agora! E este agora é passado. O futuro, esse Sr. futuro... Esse ninguém conhece.
Agora sou eu, despida de ti, do que não és mas poderias ter sido... Um tanto em mim! Agora sou eu, vestida de mim; Do que sempre serei: O melhor de mim, do meu Agora.
As nossas sombras a namorarem em Lisboa. -- José Luís Peixoto
«(...) É de noite. Há estrelas de certeza.
Novembro é o mês certo para te segurar nas mãos, memorizar-te os dedos
para nunca mais esquecer. Temos os nossos segredos, vivemo-los. E, numa
hora que escolhemos juntos, despedimo-nos sem medo. Teremos amanhã,
teremos a próxima semana e o próximo ano mas, mais ainda, temos agora,
este preciso momento em que estamos tão vivos.»
"(...) um dia, quando a
ternura for a única regra da manhã, acordarei entre os teus braços. A tua
pele será talvez demasiado bela. E a luz compreenderá a impossível
compreensão do amor. Um dia, quando a chuva secar na memória, quando o inverno
for tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada de um
velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da nossa janela. Sim,
cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso será culpa minha, porque eu
acordarei nos teus braços e não direi nem uma palavra, nem o principio de uma
palavra, para não estragar a perfeição da felicidade."
«Não deves abrir as gavetas fechadas: por alguma razão as trancaram, e teres descoberto agora a chave é um acaso que podes ignorar. Dentro das gavetas sabes o que encontras:
mentiras. Muitas mentiras de papel, fotografias, objectos. Dentro das gavetas está a imperfeição do mundo, a inalterável imperfeição, a mágoa com que repetidamente te desiludes. As gavetas foram sendo preenchidas por gente tão fraca como tu e foram fechadas por alguém mais sábio que tu. Há um mês ou um século, não importa.»
-- Pedro Mexia.
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Nem eu poderia ter escrito melhor. Ou, às páginas tantas, se tivesse sido eu a fazê-lo, apareceriam certamente uns quantos vocábulos mais vernáculos, que eu também sou moça para se me fugir o pé para o chinelo.
Gavetas são gavetas. Não são para estarem abertas. Aliás, impera fechá-las com um propósito, não vá alguém passar e "zás", bater e magoar-se. E mil uma razões podem existir para que elas estejam assim, fechadas. Tão somente. Se as trancaste, de nada adianta sobrevalorizar a chave. Deixa-a lá estar. Faz por esquecê-la.
Numa gaveta fechada podes encontrar de tudo. Mentiras, refere o Pedro Mexia. Mas eu acrescento-lhe: podes encontrar de tudo um pouco e/ou de tudo um resto. As minhas guardo-as com jeitinho e até algum carinho. Não vão, a qualquer instante, surgirem esqueletos, carne podre e coisas feias, sentimentos maus, angustias e tristezas. As minhas e qui ça as de outros tantos.
A isto poderia chamar higiene mental. Ou não. Ou talvez sim. É qualquer coisa do género. Lamentavelmente, acabou de me passar pela mente que também isto é carregar lixo. Olha, bem vistas as coisas, o melhor mesmo será atirar a chave ao mar. Ou engoli-la, para os mais corajosos.
Fechar gavetas é desafiar a mente mas também é espicaçar o corpo. É ousar chamar os bois pelos nomes para depois os colocar no seu devido lugar, ainda que a vida no campo me pareça aliciante! Bom, mas isto serão contas de outro rosário e, para este peditório, hei-de querer dar, um dia. A seu tempo, obviamente. E se para aí estiver virada que, como diz o meu Pai, eu também não sou certa.
Gavetas fechadas, escrevia eu... Arrumar assuntos, sistematizar ideias e sentimentos. É estar vivo mas, acima de tudo, é querer ousar viver melhor. Sempre e sempre melhor.
Acabei de ler um breve texto do José Luís Peixoto e que não restem dúvidas que não serei, certamente, a única doida à face da terra!
«na hora de pôr a mesa, éramos cinco: o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e eu. depois, a minha irmã mais velha casou-se. depois, a minha irmã mais nova casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco, menos a minha irmã mais velha que está na casa dela, menos a minha irmã mais nova que está na casa dela, menos o meu pai, menos a minha mãe viúva. cada um deles é um lugar vazio nesta mesa onde como sozinho. mas irão estar sempre aqui. na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco. enquanto um de nós estiver vivo, seremos sempre cinco.»
-- José Luís Peixoto.
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Faço isto. Preparo e reservo um lugar na mesa, com direito a copo e tudo. Não que a sinta ali. Mas quero-a ali. E brindo com ela.
Faço daqueles momentos, momentos meus. São coisas minhas; Das minhas penas e dores. Das perdas, do que a Vida me levou mas que, de uma forma ou de outra, me compensou. (Ou não...) Só que o tinto, dizem, é alegria. E é essa mesma alegria que dela herdei e que faço questão de manter. Não mudo, nem que a vaca tussa. Nem que o Mundo acabe. A propósito... Ouvi dizer que era coisa para acontecer no dia 21 de Dezembro... Raios, o Mundo gira mesmo rapidamente.
A saga Twilight chegou ao fim. O melhor dos filmes foi, sem dúvida, este último. E, no fim de contas, o Amor existe e pode ser de todas as formas, cores, cheiros e sabores. Pelo tempo que for... Pelo tempo que durar.
-- Sim, o meu Pai tinha razão. As "Babes" são todas "grandes malhos". Mas o Edward, pronto. E o Jacob está muito bem. Haja saúde, é o que é!!!
«É
ela. É sempre ela. Para onde quer que olhe, para onde quer que vá. É
ela. É sempre ela. O rosto dela, os traços dela, o jeito dela. E ouço-a
falar. E sei exactamente como ela fala, e conheço exactamente o tom de
voz dela, cada pausa, cada esgar, cada momento em que pára para pensar e
cada momento em que pára para sorrir. E sou eu que paro. Sou eu que, ao
vê-la em cada espaço por preencher dentro dos meus olhos (e o que são
os olhos senão espaços por preencher; espaços sempre por preencher?),
não paro. Continuo a encontrá-la. E não sei o que hei-de fazer para lhe
fugir (como se foge do que está por dentro dos olhos? como se escapa do
que não pode ser eliminado, do que não é mais do que um pensamento
dentro da cabeça? como se escapa do que não existe? como se acaba com o
que nunca começou?), não sei o que hei-de fazer para me fugir.»
Pedro Chagas Freitas, in "OU É TUDO OU NÃO VALE NADA".
Deixaste tanto de ti em mim e, ainda hoje, continuas a ser vida em mim. És a minha verdade, o mais intimo de mim, do meu ser e das minhas entranhas desventradas com a tua súbita partida.
Fazes-me TANTA falta. Em tudo. Não mais ouvi o som dos teus saltos na arcada quando me vinhas chamar para tomar um café ao fim da tarde. Não sei onde ficou o cheiro do teu pescoço, nem tão pouco a maciez da tua pele, num corpo moreno e de 53 anos. Não ouço as tuas gargalhadas nem o som de tachos e portas a bater nas manhãs de Natal. Não mais se fumaram cigarros à beira mar, naquela que sempre será a tua praia na Caparica. Não temos segredos por partilhar alias, os meus "voaram" contigo, bem sabes... Não mais deixei que me afagassem o cabelo e, quando recentemente o permiti, acabei por ser enganada e defraudada. Não estás em lado nenhum físico, pelo menos. Não te ouço. Não te cheiro. Não te tenho.
Ainda assim, AMO-TE com todas as minha forças. Com todo o meu ser. Amo-te com doçura. Quero-te com força e determinação. Fiquei sozinha, bem sabes que sim. E também eu gosto de um dramazito, não fosse fruto de um beirão e de uma madeirense. Não esperneei (e nem esperneio), pouco ou nada chorei. Mas vendi todos os lenços de papel que consegui e deixei que todos à minha volta chorassem. E te chorassem.
No fundo, sou palhaça e teatral. Sim, porque podem morrer as mães dos palhaços mas estes... Continuarão a ter hora para entrar em cena no Circo, com o único intuito de fazer rir os demais.
TU és sempre TU. Mas eu jamais serei eu.
«Uma mão cheia de nada e o Mundo à cabeceira.
Mas NUNCA me esqueci de TI.»
Algures, em 2002.
Tudo muda, tudo parte
Tudo tem o seu avesso.
Frágil a memória da paixão...
É a lua. Fim da tarde
É a brisa onde adormeço
Quente como a tua mão
Não tenho ideia de ter sido gaja para cenas "Lamichas" e outras que tais. Por outro lado, a vida tem-se encarregado de me abrir a pestana e todo um mar de gente e de situações caricatas se apresentaram e "lamichices"... Coise.
Ainda assim, não posso deixar de lembrar três das coisas que me faziam verdadeiramente suspirar que nem uma doida (e não era por amores, nem sexo e nem nada que se pareça). Assim tipos em jeito de sonhos e assim.
Como é possível que uma gaja nascida em Maio de 1975 já trouxesse consigo tamanha vontade de tirar a carta de condução, assim como de se recensear para poder votar? Bonito, bonito de se ver foi ter concretizado ambos os sonhos aos 17 anos, sem ter que esperar pelos tão afamados 18 (já que mesmo depois destes ainda continuei a pedir autorização para sair à noite, assim como para cortar o cabelo... Verdadinha!).
Bom... O que me falta aqui confessar, meus caros, é matéria para rir. E eu gosto que assim seja, entenda-se. Mas ontem, sim só ontem, no alto destes 37 aninhos, é que consegui concretizar o terceiro sonho. Valham-se-me os Céus por não ter ficado com qualquer trauma de infância!
Refiro-me a esta bela coisa, sou bem mais feliz hoje, garanto-vos:
E nada disto seria possível se o Tony não cantasse:
Pois que, segundo ouvi dizer, o N. vai ter um "lagusto" na escola para, nem mais nem menos, comemorar o "S. Valentim", outro grande maluco.
Bem sei que o S. Martinho não se vai chatear com esta troca singela de nomes até porque, Santos há muitos. Tal como os chapéus, ah, pois é.
Bom, bom foi este FDS. Um Sábado preenchido, entre cozinha, uma sessão de Shiatsu, novamente a cozinha, um belo tinto Duas Quintas e, para não fugir aos tão afamados Domingos de Inverno, este não podia ter sido diferente. Nem melhor. Foi igualmente bom, maravilhoso. Com tudo a que tenho direito.
Desde o dormir até tarde, o banho mais demorado e sem pressas, um belo pequeno almoço, cozinhados (sou verdadeiramente feliz numa cozinha e tenho para mim que, provavelmente, tenho um dom tão especial que ando perdida entre papéis, responsabilidades a mais e entre andar aqui e ali a ajudar toda a gente e um par de botas), um telefonema de longe, o sofá e a 1.ª parte do 4.º filme da Saga Twilight, para além das gargalhadas que dei com a Miss Vane, novamente ao telefone. Comadres, tá visto.
Seguiram-se as tão afamadas castanhas - desta feita, cozidas e assadas -, o Brie, o paté de ervas finas com tostas, 3 rodelas de batata doce (oh sei lá eu mas... faz-me sentir na Madeira...) e claro, bem regada a tinto.
"Lagusto" que é "lagusto" é isto tudo. Faz parte de mim e, apesar de que as palavras leva-as o vento, faço questão de comemorar sempre este dia. Aviva-me a memória, revolve-me o Baú precioso das Minhas Recordações e traz até mim a alegria da minha Mãe, assim como a sua vontade constante de comemorar... De comerar a VIDA! (curiosamente.. só conheço outra pessoa assim...)
Ohhhh Céus, que a semana seja igualmente simpática e em BOM.
«Se ao menos soubesses tudo o que eu não disse ou se ao menos me desses as mãos como quem beija e não partisses, assim, empurrando o vento com o coração aflito, sufocado de segredos; se ao menos percebesses que eram nossos todos os bancos de todos os jardins; se ao menos guardasses nos teus gestos essa bandeira de lirismo que ambos empunhamos na cidade clandestina Quando as manhas cheiravam a óleo e a flores e o inverno espreitava ainda nas esquinas como uma criança tremendo; se ao menos tivesses levado as minhas mãos para tocar os teus dedos para guardar o teu corpo; se ao menos tivesses quebrado o riso frio dos espelhos onde o teu rosto se esconde no meu rosto e a minha boca lembra a tua despedida, talvez que, hoje, meu amor, eu pudesse esquecer essa cor perdida nos teus olhos.»
-- JOAQUIM PESSOA, in O PÁSSARO NO ESPELHO (Moraes Ed., 1975).
Gerir expectativas é trabalho árduo. Aprende-se, tal como tanta coisa nesta vida. Para o bem e para mal. Alcançar um estado de expectativas 0% não é fácil. Porém, é tangível; É um estado que pode ser tocado. Pode ser real.
Nessa altura, o Ego deixará de nos dominar e um EU renasce das cinzas e torna-se uno, portanto. Integra-se, funde-se. E a propósito disto lembrei-me de como queijo namora com vinho tinto, como café combina com bolo de chocolate, para não falar da batata doce que tão deliciosa fica, quando sai do forno para acompanhar uma carne assada.
Certo e sabido é que não queria vir aqui falar de comida mas... Não controlo a boca, quanto mais a mente. Haja teclado que acompanhe estes meus dedos que tanto têm de ávidos como de caprichosos.
Fiz-lhes, pois, a vontade, que o amanhã é sempre longe demais.
«vou buscar-te ao fim
da tarde, porque a noite só escurece contigo ao meu lado, porque a noite aprende por ti o caminho aberto das estrelas
vou buscar-te ao fim da tarde,
e verás como preparei a casa, como
escolhi a música, como, enfim, espalhei
os objectos mais impressionados contigo,
os que ganharam vida por se interporem
na espessura estreita que vai do meu
ao teu coração
e não mais devolvo, correndo todos os
riscos de não amanhecer nunca
numa loucura propositada por ti
não mais te devolvo,
ocuparás o mundo debaixo e sobre mim,
e não haverá mais mundo sem que seja assim.»
All of these lines across my face
Tell you the story of who I am
So many stories of where I've been
And how I got to where I am
But these stories don't mean anything
When you've got no one to tell them to
It's true...I was made for you
Oh yeah it's true... I was made for you
«Um dia talvez faça sentido a tua fuga urgente e fria pela calada do silêncio. Só então perdoarei o tempo pela dor de não te ter tido nem ter sabido de cor.»
-- Maria José Quintela.
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Poderíamos ficar por aqui a divagar sobre a temática do amor, dos desencontros etc e tal mas a vida são dois dias mesmo e, para além disso, quem mija para trás são as cabras e quem vive de passado são os museus.
Hoje, perfeita e plena de todas as minhas faculdades físicas e mentais, posso afiançar que não há nada a perdoar (pelo menos da minha parte), assim como não existe dor por reclamar. Não houve tempo para te saber de cor visto que foi cedo que percebi não existir em ti assim tanto para te dares a conhecer. Aliás, desconfio mesmo que nem saberias tratar tal informação.
Para a frente é o Caminho e, por mais que não queiramos aceitar, o que hoje é preto, amanhã pode muito bem ser amarelo. Por enquanto, quero sorver todas as cores e lambuzar-me em sabores nunca dantes navegados, nem tão pouco degustados.
«Os homens não gostam que as mulheres pensem em silêncio. Nascem-lhes nervosas suspeitas. - Enquanto ia costurando, o seu pai não imaginava que eu estava pensando. Minha cabeça viajava por todo lado. Nesses escassos momentos, Constança era mulher sem ter que pedir licença, existindo sem ter que pedir perdão.
-- MIA COUTOno livro "O Outro Pé da Sereia", Editora Companhia das Letras.
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Já lá foi o tempo em que tal também me acontecia; Pedi muitas vezes desculpa por ser como sou. Porém, isso deixou de acontecer. Não peço desculpa por ser como sou. Aliás, não sei ser de outra maneira.
O curioso, no meio disto tudo, é que já em miúda fazia grandes barreiras à volta do prato. Pois, pois... Não gostava de ervilhas (na altura!) e, como tal, colocava-as à borda do prato.
Nos dias que correm, lamento! Não "papo" grupos, não aturo ninguém, nem tão pouco me insurjo ou imponho. Seja a quem for e por quem for. Quem não gosta, meta à borda do prato.
Existo, sem pedir licença e faço bom uso do meu Livre Arbítrio! Sou (mais) Eu!
Vieste para ficar. Abriste-me as portas do coração e fazes-me rir. Dás-me amor em forma de sorrisos, de abraços, comes ao meu lado ou à minha frente sempre como um senhor. Trazes-me os livros e todos lá em casa queremos saber as cores, os animais, as frutas e tudo o mais que aguce a nossa/tua curiosidade.
Chamo-te para irmos ver a montra de peixes mas, em contra partida, mandas-me jogar à bola a mim, enquanto cruzas as mãozinhas atrás das costas e vais ver dos cães que se passeiam na relva. O mais giro de tudo, é quando chamas a atenção da tua Mãe, só porque ela liga o carro e parece não querer esperar por mim. Mas não te apoquentes. Eu só fui à reciclagem!
Decididamente, aquela pontinha de amor que ainda me resta é tua. Pertence-te. Afinal, desejei-te tanto, mas tanto como se não houvesse destino. Mimei a barriga da tua Mãe desde o primeiro instante e confesso que te quis cá fora rapidamente.
Hoje, 1 ano e 9 meses depois, não me lembro sequer de como foi a minha vida até aos 9 meses que antecederam a tua chegada. Bom, mas isso agora também não interessa nada pois estás e estarás cá para ficar.
«Murmurei
doçuras ao seu ouvido e ele se dissolveu em meu regaço. Nem notámos que
a fogueira tinha se apagado: um outro fogo se acendera dentro de nós.»
Mia Couto. Fala de Mariamar em "A confissão da leoa".