22 de novembro de 2009

Abraços Desfeitos.





As fotos originais não são minhas (1973/1978/1987/1995/2000). A adaptação final é.
Chama Imensa, Novembro de 2009.




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(Não. Não se trata de uma homenagem ao Almodôvar. Aliás, posso até gostar do Sr. mas, actualmente, não estou p'rái virada, que é como quem diz... Não estou virada para nada. Não estou. Simplesmente não estou.)



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Abraços Desfeitos...



Cá estou eu, volvidos que estão 4 anos e 4 dias depois da tua última morada; Depois do teu último adeus quando, já nem isso conseguiste fazer. Mas não faz mal. Eu tive sempre coragem para me baixar junto de ti, sentir o teu calor tão único e juntar a minha cabeça à tua mão, simulando assim que me afagavas este cabelo farto, como fizeste toda a vida .



A nossa Vida em conjunto foi sempre repleta de abraços, admirações mutuas, meiguices, mimos, muitos telefonemas, cumplicidades (sabes todos, mesmo todos, os meus segredos), histórias que me contavas lembrando o teu passado na Madeira (nem sempre feliz, bem sei...), anedotas, dos meus shows de música e de dança (que me pedias insistentemente e eu lá ía na tua cantiga e fazia-te a vontade), discussões, opiniões distintas, a minha mania de ser tua Mãe e tu a "Rebelde do Pedaço," de amor, amizade, preocupação, carinho... Tenho tantas saudades tuas que esta dor no peito permanece. É verdade. Não vou negar. Estou exausta.



Curioso é... Como que, quase sem querer, acabei por registar o número de pessoas que se lembraram de ti e de nós, no passado dia 18 de Novembro. Pois é, Mãe. Não estou bem e acabo, ainda que inconscientemente, a ter atitudes menos coerentes, menos racionais, como esta singela estupidez. Sim, Mãe. Foram apenas seis pessoas, distribuídas entre amigos, uma colega do meu trabalho e um conhecido, alguém que passou recentemente para esta categoria (tipo desceu de divisão, como se diz no meio do futebol). A este último ainda pedi para que te continuasse a lembrar sempre envolta de alegria, boa disposição, vinho e cigarros, gargalhadas e cumplicidades... Mais que não fosse pelo amor imenso que lhe tinhas.



Sim, Mãe. Os nossos abraços estão desfeitos. Ora BOLAS! Não me posso enganar mais. Dói muito, Mãe. Dói demasiado para alguém como eu, com esta dificuldade e falta de estofo emocional intrínsecos à minha personalidade. Sinto HORRORES a tua falta. Não vou e nem quero negar mais. É tão claro como o rio correr para o mar... Nunca mais sentirei aquele cheiro fantástico que emanava do teu pescoço. Nunca mais sentirei a maciez e a temperatura da tua pele morena. Nunca mais me enrolarei em ti, desejando ardentemente ser pequenina para sempre (tal como naquela foto em que me vestistes um fato-macaco cor-de-rosa com gola à padre e com um corte de cabelo à tigela, de fugir), para que me pudesses proteger... Lembras-te?



Será que te recordas de te ter repetido essa frase vezes e vezes sem conta? Mãe, é como se eu pressentisse que te perderia tão cedo, logo aos 30 anos... Sim, Mãe. Os nossos Abraços jamais serão iguais. Jamais. Nunca mais. Jamais. Nunca mais. E porquê? Porque não temos como nos abraçar. Pelo menos não neste plano fisico.



A Sweety tem saudades minhas. Eu tenho saudades minhas ou, quem sabe, saudades daquilo que eu construi mas que, devido a tantas penas, dores e fragilidades, se está a desmoronar, tal e qual um castelo de cartas... Vulnerável. Frágil, tão frágil. Juro-te, tenho tentado exprimir esta dor no meu peito mas não é fácil verbalizar tudo o que tenho cá dentro... Especialmente porque, tenho para mim que ninguém conseguirá entender esta dor e solidão profundas que carrego comigo. O brilho do meu olhar dissipou-se, com ou sem chuva. Com ou sem vento.



Mãe, nada mais tenho a esconder. Nada mais quero negar. A tua partida abrupta e precoce acabou por me desventrar totalmente. Não sei de mim. Não sei para onde vou. Não quero estar em lado nenhum mas sei que gostaria de estar contigo. Sabes, Mãe, há dias sonhei que nos encontrámos por aí e eu... Num pranto doloroso e sofrido, questionava-te desenfreadamente: «-Oh Mãe, tiveste saudades minhas?... É que eu quase morri de saudades tuas, Mãe...».



Existe uma frase que ecoa sistematicamente dentro da minha cabeça; E eu sei que tu sabes exactamente a que frase me refiro... Proferi-a vezes e vezes sem conta:
«- Hey, nem penses morrer primeiro do que eu porque, se isso acontecer, eu mato-te a seguir!!!», lembras-te que te dizia isto e depois... Depois só nos faltava cair redondas no chão de tanto rir.



O aperto no coração mal me deixa respirar. Eram 06:30 da manhã de ontem quando me levantei de repente, com uma falta de ar que me fez descontrolar por completo e ficar sem saber se tossia, se me assoava, se limpava as lágrimas dos olhos... Vim até à cozinha e, da nossa janela, vi o dia a nascer, enquanto tentava inalar aquele cheiro a bolos do Scala. A chuva chegou e não parou todo o dia. Faz-me lembrar esta dor que trago comigo... A dor de não te ter; A dor de quem está sozinha no Mundo, meio perdida, meio sem rumo. Desenraizada, Mãe. Esta sou eu, hoje... Volvidos que estão 4 anos e 4 dias depois da tua... Partida.



Desculpa-me... Não posso negar mais. Desejo conseguir despir esta máscara que trago vestida desde que partiste e que, ingenuamente, julguei que me protegeria do "frio". Mas não. Tal não aconteceu e... Ambas sabemos que não vai acontecer.



Abraços desfeitos, é certo... Mas a Bu' tem o dom de transformar palavras, tornando-as grandes e intemporais... Falei-lhe de ti em Abril deste ano, numa altura em que eu não estava nada bem. E não é que a nossa Princesa Cor-De-Rosa faz mesmo o quer com as palavras?...



"Hoje por mil e umas coisas, as palavras faltam-me, desculpa! Mas sabes, vivemos 24 horas com vontade que chegue o dia seguinte, à espera de não sei bem o quê. Esperamos por uma reviravolta, uma coisa nova, até que existem fenómenos como ela que nos fazem esquecer o dia de amanhã e aproveitar o de hoje, levando a monotonia de desde então por outros lados. Uma razão para sorrir, duas razões para viver. Um palpitar constante de coração e um brilho nostálgicos nos olhos.


Mantens a energia viva, és e será sempre a estrela que brilha mais no céu. Não é a distância que nos irá fazer alguma vez esquecer dela. O amo estará sempre presente aqui."




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Pensei não colocar nenhum vídeo mas... Sei que adoravas particularmente esta música. E, hoje, já consigo entender porquê.






1 comentário:

Anónimo disse...

Estou nua de palavras, de cabeça oca e meio louca de tanta coisa a entrar e a sair, para dizer/escrever... JAMAIS este MUNDO te devolverá ESSE abraço... mas enquanto o OUTRO não chega, devolvo-te sempre o meu colo, entrego-te o meu carinho, admiração, conforto, saudade, estima, amor...
Bem sei que não há comparação... mas é genuíno... e entre dois dedos de conversa, meia dúzia de SMS's, uns quantos sopros, outras tantas vontades de fugir, e uns copos de vinho... estou aqui!
Mas isso... tu sabes!
Haverá sempre tanto que fica por dizer, fazer, viver...
Daí a gana de soltar tudo e ser e fazer tudo e mais alguma coisa...
Essa "gana" faz parte de ti, corre-te nas veias... aproveita! Mostra a todos a VITÓRIA de vida e de ser que és!
A SAUDADE que cá mora... é dos que AMAM... acaba por nunca ir embora...isso também é prova que fazes parte de mim :)
SWEETY