6 de março de 2011

Olhar vislumbrado para um palco qualquer.

«E continuo a olhar vislumbrado para o palco...»

Pois que existem situações em que temos de comprar os bilhetes e ficarmos sentados, impávidos e serenos, olhando para o palco, esperando tranquilamente tudo o que ali se há-de passar. Ou não. Umas vezes, esta espera vale a pena mas outras nem tanto. Tal como na vida.
Tudo gira. Tudo é tão tremendamente dinâmico que até assusta... Aguça-nos a curiosidade, queremos mais. Queremos tudo a que temos direito. Ficamos extasiados e de coração na boca, querendo saltar das cadeiras já quentes com o único propósito de rasgar aquele pano escuro e denso que ali está, à nossa frente, tão definido e prepotente e que nos impede de ver a obra. Temos ganas de entrar, de pisar o palco que, afinal de contas, (também) é nosso. A adrenalina? Essa tipa está em alta. A frequência cardíaca aumenta e ruborizam-se-nos as faces. Queremos sentir! Queremos tirar a roupa que nos impede do frio lá fora para sermos outros, tal como as cobras que se vão descascando entre folhas e arbustos no meio da areia já lama depois de uma noite chuvosa.
É gigante o nosso ensejo de pisar o palco. Aquele palco. Compraram-se os bilhetes. O espectáculo há-de continuar, com maior ou menor entusiasmo do público ou... O espectáculo pode acabar entre lágrimas e suor, entre beijos demorados e sobejamente molhados, entre aplausos e uns tantos "Bravo, Bravo", num frenesim constante do senta-levanta das cadeiras, cujos rabos já toldaram o veludo.
Mas notem, tudo isto são «(...) previews... sim, todos referentes à mesma obra. Qual? A ver vamos...».
Ainda assim, (já) valeu a pena. Vale sempre a pena. Mesmo que os bilhetes não sejam todos vendidos e que a plateia não se componha.


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