10 de outubro de 2014

Estamos no Outono.


Minha Querida Vanda,

Vim só dizer-te que estamos no Outono e que, de certa forma, o sinto assim. Mas isto, como é óbvio, também vale o que vale!

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Gosto muito, mas mesmo muito do Verão. Gosto muito do Inverno. Faço anos na Primavera mas o Outono exerce, efectivamente, um certo "poder" em mim.

Já que comecei por escrever na primeira pessoa, por aí vou continuar. Podia tentar encontrar um qualquer paralelismo e associar este magnetismo, chamemos-lhe assim, a uma certa nostalgia que invade o ar (ou que se me invade a mim em concreto); Podia até referir-me ao Verão de S. Martinho visto que sou, literalmente, viciada em castanhas. Lembrei-me agora das comidas de forno, da carne e das batatas assadas com amor, devidamente temperadas com alegria, assim como das rodelas de laranja cortadas de forma mais ou menos "tosca" e que vinham embelezar as travessas. Umas quantas delas (as travessas) foram postas na máquina de lavar ontem à noite. Mas só porque eu estava virada para arrumações extra, grantidamente. E ora aqui está o meu Eu. De novo.

Mas o Outono deixa-me assim, sei lá, meio mole, meio feliz, mais pensativa, tristonha qb e suspiro. Oh Céus, suspiro bastante! Bom, certo é que por vezes (também) perco a paciência. O diafragma abre-se e fecha-se, enche-se o peito de ar e é só deitá-lo cá para fora.

E lá vou eu, olhando para o chão (escrevi isto e ouvi criancinhas a cantar aos meus ouvidos: olhei para o Céu, estava estrelado, vi o Deus Menino nas palhas deitado, nas palhas deitado e... Por aí fora). Caminho sobre as primeiras folhas que entretanto (já) cairam. Sinto-as estalar debaixo das sabrinas encarnadas, enquanto o frio da manhã me fortalece os ossos, dos pés aos tornezelos enquanto a minha face dança num vai vem, entre o olhar em frente [ai, havia tanto para dizer do ar fresco matinal em faces rosadas, assim como dos cabelos (agora mais compridos) que agora também se entregam ao vento] e o olhar para baixo. Perdida em pensamentos ligeiros, que a manhã é coisa de calmaria, ouço essas mesmas folhas como que pedindo timidamente - «-olha, não nos pises!».

As cores de Outono deliciam-me, é um facto. Há todo um misto de sabores, cores e cheiros, densos mas nada intensos, que surgem aqui e ali. Tenho para mim que a Mãe Natureza se quer despir e, como que numa dança mais ou menos sensual, vai deixando cair as suas folhas e galhos, enquanto se prepara para o seu banho demorado. De seguida, e qual vaidosa que é, vai querer olhar-se ao espelho, que eu cá bem sei. São sombras, imagens, gestos, palavras soltas ao vento (o mesmo vento que nos refrescou as faces rosadas e nos desalinhou o cabelo ali em cima) que, em rodopio, como que "bamboleando", nos fazem lembram que, tal como na Natureza, é tempo de largar – sem pressas, sem esforços, sem angustia, sem dores e sem penas (daquelas que nos pesam a alma e nos adormecem a razão).

Estamos no OUTONO. Para que a "coisa" corra ainda melhor, basta abrir as mãos e deixar ir. Até porque o apego não se casa com o Outono!

 

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