24 de fevereiro de 2014

Nas bancadas.


Vens e voltas. Vais e vens. Num corrupio de alegria, paixão, vontade boa daquela que se tem e se sente quando se quer bem alguém (e a alguém em particular). Já não há dor, nem espaço para a mágoa. Valha-nos isso. E perdemo-nos no tempo.

Continuo a gostar da cabeça dos teus dedos das mãos, do som da tua voz, da tua boca, de me quereres aninhada a ti e em ti e sim, já sei. Tu gostas de mim. E da minha maneira de falar, gostas da forma como articulo as palavras, mesmo quando roo uma maçã ao teu ouvido. Somos doidos, é certo. Mas existem malucos para tudo. (Olha para mim, aqui a escrever sobre nós a passos largos de se completarem 4 anos depois do primeiro almoço, regado de sol e banhado de lambrusco rosé. A rolha desse almoço está lá, heroicamente exposta numa prateleira especial onde "moram" também outros amores...)

Vieste, foste e está tudo maravilhoso. Perfeito. Ainda assim, e vá-se lá saber porquê, tu poderias ser "aquele"... Palavras soltas, desejos vãos entre um Z no teu coração e o delírio nas bancadas.


«Paisagem.

Desejei-te pinheiro à beira-mar
para fixar o teu perfil exacto.

Desejei-te encerrada num retrato
para poder-te contemplar.

Desejei que tu fosses sombra e folhas
no limite sereno dessa praia.

E desejei: «Que nada me distraia
dos horizontes que tu olhas!»

Mas frágil e humano grão de areia
não me detive à tua sombra esguia.

(Insatisfeito, um corpo rodopia
na solidão que te rodeia.) »

@David Mourão-Ferreira, in "A Secreta Viagem".




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