6 de março de 2014

Gostar.



«Esta coisa de gostar de alguém não é para todos e, por vezes – em mais casos do que se possa imaginar – existem pessoas que pura e simplesmente não conseguem gostar de ninguém. Não é que não queiram – querem! – mas quando gostam – e podem gostar muito – há sempre qualquer coisa que os impede. Ou porque a estrada está cortada para obras.. Ou porque sofremos de diabetes e não podemos abusar dos açucares. Ou porque sim e não falamos mais nisto. 

E muitas das vezes, sabendo deste nosso problema, escolhemos para nós aquilo que sabemos que, invariavelmente, iríamos recusar. Daí existirem aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já sabíamos que não íamos a lado nenhum e que – aqui entre nós – é até um alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice! Do mesmo modo que no final de não sei quanto tempo de relacionamento há o hábito generalizado de dizermos que aquela pessoa com quem nós estamos já não é a mesma, quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou foram as expectativas que nós criamos em relação a ela. 

O que é difícil – dizem – é saber quando gostam de nós. Saber quando gostam de nós? Isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem “ ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho”, nem “ ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada” nem “ ai que não vi a tua chamada não atendida”. Quando se gosta de alguém – mas a sério – não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar comigo...
 
Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos hipotéticos acidentes de carro, nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de nos impossibilitarem o encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campainha da porta... Quando se gosta de alguém – e estou a escrever para os que gostam - nada nos impede de estar juntos, porque nada nem ninguém é mais importante, do que nós.»
-- Fernando Alvim.