«Esta coisa de gostar de alguém não é para todos e, por vezes – em
mais casos do que se possa imaginar – existem pessoas que pura e
simplesmente não conseguem gostar de ninguém. Não é que não queiram –
querem! – mas quando gostam – e podem gostar muito – há sempre qualquer
coisa que os impede. Ou porque a estrada está cortada para obras.. Ou
porque sofremos de diabetes e não podemos abusar dos açucares. Ou porque
sim e não falamos mais nisto.
E muitas das vezes, sabendo deste nosso problema, escolhemos para nós
aquilo que sabemos que, invariavelmente, iríamos recusar. Daí existirem
aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas
pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o
certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já
sabíamos que não íamos a lado nenhum e que – aqui entre nós – é até um
alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice! Do mesmo modo que no
final de não sei quanto tempo de relacionamento há o hábito generalizado
de dizermos que aquela pessoa com quem nós estamos já não é a mesma,
quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou foram as
expectativas que nós criamos em relação a ela.
O que é difícil – dizem – é saber quando gostam de nós. Saber quando
gostam de nós? Isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não
há desculpas nem “ ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho”,
nem “ ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada” nem “ ai que
não vi a tua chamada não atendida”. Quando se gosta de alguém – mas a
sério – não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo
assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos,
porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha
amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar
comigo...
Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria,
nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de
uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma
mensagem só no final do dia, não temos hipotéticos acidentes de carro,
nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de nos impossibilitarem
o encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campainha da porta... Quando se gosta de alguém – e estou a escrever
para os que gostam - nada nos impede de estar juntos, porque nada nem
ninguém é mais importante, do que nós.»
-- Fernando Alvim.
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