A semana avançou rapidamente. As noites foram curtas. O sono cada vez menos. Vale-nos o facto de a dor de garganta e a rouquidão terem atenuado. Andamos ansiosos, talvez. Tudo acontece num "piscar de olhos". É complicado gerir tudo, e tão pouco, assim. Mas continuamos a tentar, a tentar. Chegaremos lá?
A cama parece imensa. Todas as noites fechamos os estores até ao fim na esperança de que, quem sabe, possas aparecer... Surgir do nada, talvez do meio deste Silêncio que "desceu" em nós. Sabemos bem que preferes dormir assim, completamente no escuro. Mas, mesmo no escuro, enxergávamos-te. Nem sempre precisamos de olhar com os olhos. Poderíamos tocar-te, apenas. Poderíamos até... Nem te tocar.
As memórias continuam cá. Estão em quase todo o lado. O sofá e o comando da TV ainda te esperam. A mesa da sala continua posta, sempre com dois lugares a mais. Um dos que está a mais pertence-te. É aquele que fica do nosso lado direito. Mas já não existem manchas de vinho nem de chá desse lado. Não avistamos sequer "bezins" nem pedaços de cinza de cigarro. Não existem canetas nem papéis espalhados na mesa, antes do jantar. As taças do chá também estão ali, junto dos copos altos. O Silêncio está por aí e vive por aqui também. Por vezes, a Solidão insiste em querer "aparecer". É duro resistir-lhe, "fazer-lhe frente" com veemência e determinação. Ainda hoje é assim.
Na quinta-feira jantámos com Amigos e Gatos. Foi noite de teatro. Revivemos Happy Hour (http://teatrotrindade.inatel.pt/happyhour.html). Foi outro Momento. Ficámos serenamente sentados e cruzámos as pernas por instantes. Assistimos à peça ali, com tudo a acontecer bem à nossa frente, tal como da primeira vez. Facilmente nos vimos naqueles dois seres que amam desesperadamente mas que não conseguem fazer valer aquele sentimento maior... O Amor. Porque o Silêncio e o Medo de Amar e de se Ser venceram.
Foi quase tudo igual. As lágrimas queriam saltar. Podíamos "vestir" qualquer uma daquelas personagens. As emoções fluíam... Colocámos a cara junto dos braços tensos, ali dobrados em cima daquela mesa. Somos assim. Ficámos a pensar naquele "tudo" que acontecia ali. Sentimos de novo aquela certeza. Certeza(s) de quem consegue ter a capacidade de amar tranquilamente. Ambicionamos isso... Tranquilidade versus Liberdade.
Sentimos tudo, quase tudo, como da primeira vez. Porém, faltavas tu. Ninguém se movia. Ninguém falava. Sentíamos um nó na garganta. Faltou-nos aquela mão pequena, macia mas tão segura. A tua mão! Uma mão que não consegue chegar até nós. Tentámos aguentar o Silêncio… Mais uma vez.
Silêncio! Silêncio! Quem é que aguenta? Beijamos-te ou não?
Silêncio! Silêncio! Quem é que aguenta? Beijamos-te ou não?
Beija-nos… Ainda que seja... Em Silêncio.
Debussy, Clair de Lune
Silêncio! Silêncio! Quem é que aguenta? Beijamos-te ou não?
Beija-nos… Ainda que seja... Em Silêncio.
Debussy, Clair de Lune
1 comentário:
O silêncio é por vezes o mais cruel dos ruidos.
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